segunda-feira, 10 de agosto de 2009

um texto febril num momento gripado.

1
''Chovia, chovia, chovia e eu ia indo por dentro da chuva ao encontro dele, sem guarda-chuva nem nada, eu sempre perdia todos pelos bares, só levava uma garrafa de conhaque barato apertada contra o peito''
- Caio F. Abreu
*
Daquele chocolate e daquela sua fala comedida, porém audaz eu guardo apenas o que me convém, e se eu te falasse mais vezes o que me convém você deixaria de existir, para sempre.
Era tempo de flores e o sol desabrochava no meio de um parque entre nós, foi num sussurar de meias palavras e numa troca furtiva de balas que eu me peguei feliz.
Se eu te deixasse entrar no meu mundo como seria colorido, flores, fotos, parques e nuvens em formas de querubim, eu seria capaz do esquecimento, da serenidade, da contemplação e da quietude inquieta dos que sabem esperar.
Mas isso desmoronou e não é porque você sumiu, mas porque parece que de nada valeu.
O melhor perfume, a melhor parte, a melhor música, o melhor sapato, a melhor roupa, o melhor beijo.
Talvez eu tenha deixado um milímetro ainda para caso um dia você volte, aquele milímetro que a gente guarda no fundo dos olhos. Não digo que te quero a todo momento, nem que sou obsecado por essa condição de vitíma, que eu mesmo me proponho, de um algoz sádico e silencioso. Contemplo os lírios dos outros campos, retomo os vales que já reguei, mas por esse jardim eu nunca mais passei.
Eu queria flores, bombons, beijos e que essa sinceridade fosse o suficiente para eu poder te ver.

4 comentários:

Adriano Veríssimo disse...

"Talvez um voltasse, talvez o outro fosse. Talvez um viajasse, talvez outro fugisse. Talvez trocassem cartas, telefonemas noturnos, dominicais, cristais e contas por sedex (...) talvez ficassem curados, ao mesmo tempo ou não. Talvez algum partisse, outro ficasse. Talvez um perdesse peso, o outro ficasse cego. Talvez não se vissem nunca mais, com olhos daqui pelo menos, talvez enlouquecessem de amor e mudassem um para a cidade do outro, ou viajassem junto para Paris (...) talvez um se matasse, o outro negativasse. Seqüestrados por um OVNI, mortos por bala perdida, quem sabe. Talvez tudo, talvez nada.

[...]

E tudo que eu andava fazendo e sendo eu não queria que ele visse nem soubesse, mas depois de pensar isso me deu um desgosto porque fui percebendo (...) que talvez eu não quisesse que ele soubesse que eu era eu, e eu era."

Caio Fernando Abreu

**

=/

Letícia Martins disse...

Escrever tudo mundo escreve, a unica coisa que falta é saber escrever.
Você tem o dom gostei muito.
Parabens

Anônimo disse...

num é por nada...mas vc deveria ficar gripado mais vezes..rsrs

Joeliton Costa disse...

Textos Muitos bons (Amei,Amei,Amei)