segunda-feira, 10 de agosto de 2009

um texto febril num momento gripado.

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''Chovia, chovia, chovia e eu ia indo por dentro da chuva ao encontro dele, sem guarda-chuva nem nada, eu sempre perdia todos pelos bares, só levava uma garrafa de conhaque barato apertada contra o peito''
- Caio F. Abreu
*
Daquele chocolate e daquela sua fala comedida, porém audaz eu guardo apenas o que me convém, e se eu te falasse mais vezes o que me convém você deixaria de existir, para sempre.
Era tempo de flores e o sol desabrochava no meio de um parque entre nós, foi num sussurar de meias palavras e numa troca furtiva de balas que eu me peguei feliz.
Se eu te deixasse entrar no meu mundo como seria colorido, flores, fotos, parques e nuvens em formas de querubim, eu seria capaz do esquecimento, da serenidade, da contemplação e da quietude inquieta dos que sabem esperar.
Mas isso desmoronou e não é porque você sumiu, mas porque parece que de nada valeu.
O melhor perfume, a melhor parte, a melhor música, o melhor sapato, a melhor roupa, o melhor beijo.
Talvez eu tenha deixado um milímetro ainda para caso um dia você volte, aquele milímetro que a gente guarda no fundo dos olhos. Não digo que te quero a todo momento, nem que sou obsecado por essa condição de vitíma, que eu mesmo me proponho, de um algoz sádico e silencioso. Contemplo os lírios dos outros campos, retomo os vales que já reguei, mas por esse jardim eu nunca mais passei.
Eu queria flores, bombons, beijos e que essa sinceridade fosse o suficiente para eu poder te ver.

domingo, 9 de agosto de 2009

Ai




Deu meu coração de ficar dolorido
Arrasado num profundo pranto
Deu meu coração de falar esperanto
Na esperança de ser compreendido
Deu meu coração equivocado
Deu de desbotar o colorido
Deu de sentir-se apagado
Desiluminado
Desacontecido
Deu meu coração de ficar abatido
De bater sem sentido
Meu coração surrado
Deu de arrancar o curativo
Deu de cutucar o machucado
Deu de inventar palavra
Pra curar de significado
O escuro aço denso do silêncio
De um coração trespassado

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Pode me dar (Luiza Possi)

Só você pode me dar
Uma luz, pode fazer tudo mudar
Só você pode me dar
Uma luz, pode fazer tudo mudar
Mal chego de manhã
Acho tudo estranho
Tudo fora do lugar
Sol? De que vale o sol?
Preciso de sombra e água fria
É muita ironia e má vontade do destino
Que nunca deixa a gente se encontrar
As nossas mãos vazias modelando fantasias
Eu fecho os olhos pra te encontrar
Só você pode me dar
Uma luz, pode fazer tudo mudar
Só você pode me dar
Uma luz, pode fazer tudo mudar
Se eu tento viajar
Só mudo o cenário da tristeza
Dói, longe imaginar a luz do seu quarto ainda acesa
É muita gentileza perceber que eu estou sofrendo
Você podia me telefonar
Do alto do avião eu vejo o Rio iluminado
Em qual desses caminhos te achar? (te achar?)
Só você pode me dar
Uma luz, pode fazer tudo mudar
Só você pode me dar
Uma luz, pode fazer tudo mudar

segunda-feira, 27 de julho de 2009




esse curta é simplesmente poético, lindo e sutil!

terça-feira, 21 de julho de 2009

São tantas coisas para desabafar que eu chego a pensar em como seria explodir, quem sabe até morrer. Os dias não estão da forma que deveriam ser, essa repugnância que nasce em mim pelo que me formou, essa falta de ousadia e coragem em dizer adeus, esse retrospecto do que já tinha que ter passado me colocam em parafuso.
Essa tarde ao assistir "Milk-a voz da igualdade", do Sean Penn, eu deixei que algumas das inquietações do personagem principal me invadissem, eu olhei para a vida e me bateu um medo de chegar aos 50 anos sem ter feito nada que eu me ogulhasse, sem ter feito nada de importante ou de relevante, sem ter modificado minimamente o mundo.
Por conta disso refleti sobre algumas frutrações, uns trabalhos furados, uma graduação que não condiz com a minha necessidade, uma arte que me foi imposta e que eu não me sinto efetivamente como um artesão dela. Estou mergulhado num ranso, numa merda que a cada dia fica mais fedida. Será que é tão difícil de ver e prosseguir?
Eu preciso dar passos importantes na minha vida, aceitar que o passado é passado e que esse presente que insiste em rememorar aquilo que me faz homem precisa ser deixado de lado. Eu necessito do crescimento, eu quero poder planejar a minha vida sem depender das instituições que tanto me pressionam. Tudo isso é uma morte lenta e cruel, é uma pesistência num não sei o que. Onde está o meu presente, não digo nem do futuro, mas o que eu estou fazendo com o meu presente?O que de hoje vai virar passado para ser relembrado? As mesmas coisas de anos atrás?
Eu preciso mudar, eu quero crescer, eu quero poder sentir que eu fiz algo de útil para o mundo, mas sinceramente eu não sei como.

domingo, 19 de julho de 2009

“Se o toque do outro de repente for bom? Bom, a palavra é essa. Se o outro for bom para você. Se te der vontade de viver. Se o cheiro do suor do outro também for bom. Se todos os cheiros do corpo do outro forem bons. O pé, no fim do dia. A boca, de manhã cedo. Bons, normais, comuns. Coisa de gente. Cheiros íntimos, secretos. Ninguém mais saberia deles se não enfiasse o nariz lá dentro, a língua lá dentro, bem dentro, no fundo das carnes, no meio dos cheiros. E se tudo isso que você acha nojento for exatamente o que chamam de amor? Quando você chega no mais íntimo, No tão íntimo, mas tão íntimo que de repente a palavra nojo não tem mais sentido. Você também tem cheiros. As pessoas têm cheiros, é natural. Os animais cheiram uns aos outros. No rabo. O que é que você queria? Rendas brancas imaculadas? Será que amor não começa quando nojo, higiene ou qualquer outra dessas palavrinhas, desculpe, você vai rir, qualquer uma dessas palavrinhas burguesas e cristãs não tiver mais nenhum sentido? Se tudo isso, se tocar no outro, se não só tolerar e aceitar a merda do outro, mas não dar importância a ela ou até gostar, porque de repente você até pode gostar, sem que isso seja necessariamente uma perversão, se tudo isso for o que chamam de amor. Amor no sentido de intimidade, de conhecimento muito, muito fundo. Da pobreza e também da nobreza do corpo do outro. Do teu próprio corpo que é igual, talvez tragicamente igual. O amor só acontece quando uma pessoa aceita que também é bicho. Se amor for a coragem de ser bicho. Se amor for a coragem da própria merda. E depois, um instante mais tarde, isso nem sequer será coragem nenhuma, porque deixou de ter importância. O que vale é ter conhecido o corpo de outra pessoa tão intimamente como você só conhece o seu próprio corpo. Porque então você se ama também.”

Caio Fernando Abreu

domingo, 19 de abril de 2009

Flores

I


As flores dessa casa estão secas, não há mais seiva correndo nessas veias e a água deste jarro apodreceu. Precisamos jogar os restos fora, limpar o jarro que talvez ele dê um belo adorno na sala de estar, quem sabe em cima do móvel da televisão, ou então na mesinha de centro. Poderíamos deixar como porta objetos, guardar moedas ali dentro, ou então deixar que Clarice bata as cinzas de seu cigarro quando vier nos visitar. Vamos levem essas flores mortas para o lixo, o cheiro está empesteando o ar, Ele disse que chegará logo e é imprescindível que esse azedume não cheire nem na sala, nem nos quartos e nem na cozinha. Quando Ele chegar a impressão tem de ser outra, não pode ser como na primeira tarde que tomou chá conosco, ele deve ver que o lugar continua o mesmo, a estante, o sofá, as paredes um pouco mais amareladas, mas ainda assim as mesmas, o jantar, o jantar não deve ser o mesmo daquela noite. Tudo no seu devido lugar, só tirem essas flores. Ele precisa ver que elas não se encontram mais dentro do vaso, ele pode até perguntar por elas, mas não responderei, Ele precisa perceber que as flores não fazem mais parte do ambiente, coloquem o vaso em cima da mesinha e não digam nada, ouviram, nada. Vou tomar um banho, me arrumar e descer. Levem a água do vaso para meu banho.